Retorno ao Blog e Minhas Músicas Favoritas de 2023

    Faz um tempo que tenho o desejo de voltar a escrever sem nenhuma pretensão ou objetivo principal, sem almejar por uma finalidade para a minha escrita: escrever por escrever. Tenho escrito bastante no exercício da função de professor, na criação de notas de aula e na organização de conteúdos, e também tenho escrito como parte de minha formação acadêmica: a organização e escrita de artigos científicos e também de uma tese requer a prática constante da escrita. Mas o desejo por escrever sobre o que se passa aqui dentro voltou a aumentar. 

Nessa ânsia por escrever, me recordei de que em 2008 uma versão mais jovem, mais inconstante e igualmente inquieta de mim havia começado um blog com esse intuito exclusivo  praticar a escrita e catalogar os seus interesses pessoais  despejar pensamentos em uma folha de papel, só que neste caso uma folha digital. É com esta finalidade que recomeçarei a postar sobre tudo aquilo que eu julgo importante e relevante para mim. 

Dito isto, um dos aspectos mais presentes em meu dia-a-dia é a necessidade quase que visceral de ouvir e apreciar música. Quem me conhece sabe que eu passo uma parcela significativa do meu dia a ouvir música, assim como faço com a leitura. É através das palavras de outras pessoas que eu construo o meu próprio vocabulário de sensações e sentimentos. Ouso dizer que se não pelas palavras de pessoas mais sensíveis do que eu, eu não teria meios de exercer a minha própria sensibilidade.

Sendo assim, eu gostaria de deixar aqui uma espécie de "top 5" (apesar de que é extremamente difícil de separar um número X de músicas favoritas) das músicas que eu apreciei no ano de 2023.


Versions of the Truth - The Pineapple Thief

Apesar de The pineapple thief ter outras músicas que eu particularmente goste mais, como por exemplo, in exile, white mist, magnolia, the frost ou the one you left to die, eu fiquei completamente fascinado pela música Versions of the Truth. Achei o vocal do Bruce Soord bem maduro nessa música (e no álbum inteiro, para ser honesto) e como as faixas foram compostas juntamente com o Gavin Harrison eu achei que o trabalho dos dois está bem mais conectado nesse álbum do que nos álbuns passados.

Eu sou fascinado nos preenchimentos do Gavin Harrison, e considero ele um dos meus bateristas favoritos, e essa música tem tudo dele presente nela.

Gosto também da letra da música, o refrão engana a gente, no começo dá pra pensar que o Soord coloca a pessoa da música no papel de uma pessoa machucada e injustiçada por uma "versão da verdade" que não é a dele,

"It's not how I remember it,
You sold me out before I had time
to fight
Now it's not how I remember it
You cornered me
Knocked me out"

"It's not how I remember it
You took control
And sold me out before I had time"

mas no meio percebemos que a pessoa da música é sim uma pessoa cheia de conflitos internos, mas que existem várias versões discordantes da verdade possíveis. O eu lirico da música parece ser uma pessoa distante e em sua própria "frequência emocional", uma "frequência" inacessível às outras pessoas

"If I had known what it's all about,
Someone told me to work it out
I live in this frequency
Frequency just for me
Just scattered voices,
Not one that I can say
Is close enough for me to make it out
No words that I can care about
This is a world of silence
This is a world where you are safe
Yeah, I am lost in this frequency
It's a frequency just for me
I hear no voices
Not the ones that I betrayed"

uma frequência que impede a comunicação, note que a causa da solidão e da discordância com a versão da verdade da outra pessoa vêm dessa "frequência diferente". Na música, tem-se uma repetição do refrão, mas que termina com uma repetição dessa vez com os papéis invertidos,

"You caught me in the black light
There was one way out for you
I knocked you out
Is that how you remember it?"

revelando que nem sempre as versões da verdade para pessoas diferentes são a mesma, mas que não invalida o que cada um sente em relação à situação (sua própria versão da verdade). Essa música é uma jornada que só é possível na voz do Soord. 

Chokehold - Sleep Token

Outra música que eu ouvi em loop no ano de 2023 foi chokehold do sleep token,


se eu não me engano, essa foi a música em destaque do meu wrapped  no spotify. Essa música é insana, desde os vocais do Vessel, a bateria do II até o breakdown com a distorção na guitarra, a melodia lenta ... Tudo nessa música é fenomenal e a letra alimenta minhas fantasias. Curiosamente eu vejo muitos paralelos da banda com Deftones que é outra banda que por muito tempo habitou o meu imaginário.

Like a Villain - Bad Omens

Uma das coisas que eu mais ouvi sobre sleep token na internet é que "é uma banda que faz música sexy para metalheads",  uma opinião que me deixa em cima do muro, porquê eu enxergo um apelo pelo eros nas músicas da banda, mas por outro lado, eu acredito que ela é muito mais do que isso. AGORA SE TEM UMA BANDA QUE ME DEU ESSE SENTIMENTO, ESTA BANDA FOI BAD OMENS. Esse álbum the death of piece of mind é extremamente sensual, e a música like a villain, que inclusive é o motif do álbum inteiro foi uma das músicas que eu mais ouvi no ano passado.


Window of the Waking Mind - Coheed  and Cambria

Eu gosto muito de coisas conceituais, e uma banda que faz isso com maestria é Coheed and Cambria. O próprio nome da banda é vinculado com os personagens da história que o vocalista Claudio Sanchez criou, chamada the amory wars. Todos os álbuns da banda são temáticos e contam a história de vários personagens desse mundo imaginário. O que eu gosto em the window of the waking mind é que ela não só conclui o próprio álbum, mas também conclui o anterior unheavenly creatures, sendo o motif principal da música compartilhado com old flames, a trilha dos personagens principais de unheavenly creatures e apresenta uma espécie de estrutura de 3 atos dentro da própria música.

Coheed and Cambria mandam muito bem, ouvir qualquer um dos álbuns é um exercício de criatividade, eu me perco tentando tirar significados, encontrar temas, motifs, fazendo paralelos e criando minhas próprias narrativas. Essa música, juntamente com o próprio álbum e com o anterior ficaram rodando por muito tempo durante 2023 na minha playlist, o que já havia ocorrido anteriormente com ascension e descencion lá em 2014. Coheed and Cambria, para mim, definitivamente é um evento, mais do que uma banda

Boneville - Leprous

Outra banda que tem um dos meus bateristas favoritos, Baard Kolstad, e que manda muito bem. Eu definitivamente gosto muito mais de outras músicas do Leprous, mas eu acabei ouvindo muito o álbum malina que foi o primeiro que eu ouvi da banda. Por algum motivo, 2023 foi um ano em que eu retomei muitos dos meus projetos pessoais e apreciei muitos dos álbuns que eu tinha ouvido sem parar em anos anteriores.


Esse não era para ser um post de análise de música e nem de discussão de letra de música, mas eu me senti confortável para escrever um pouco sobre esse assunto que é tão íntimo para mim. Eu discorri por muitas e muitas linhas de texto e mal consegui apresentar 5 das músicas que eu mais ouvi no ano passado, entretanto eu me sinto contente por poder voltar à escrever.

Não tenho nenhuma pretensão de que alguém vá ler o que eu escrevi, mas se você está lendo, saiba que agora compartilhamos algo que é muito especial e íntimo para mim, meu gosto musical. Espero no futuro poder fazer uma nova retrospectiva musical, quem sabe uma mais concisa.

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